'Não mandei, mas aceitei', diz Bruno sobre morte de Eliza
Brasil - O goleiro Bruno Fernandes de Souza disse nesta quarta-feira (6) que aceitou o fato de que Eliza Samudio havia sido assassinada a mando do amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, sem tomar qualquer atitude e sem denunciar os envolvidos no crime. "Como mandante, dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado", afirmou o atleta. "Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse à juíza Marixa Rodrigues.
O interrogatório do jogador começou por volta das 14h e terminou perto de 20h15 no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, onde acontece o seu júri popular e o da ex-mulher, Dayanne Rodrigues. Ele respondeu a todas as perguntas feitas pela juíza e por seu advogado, além de pelo menos 30 questões formuladas pelos jurados. Bruno, no entanto, permaneceu calado ao ser questionado pela Promotoria e por Ércio Quaresma, advogado de policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.
O goleiro disse que Macarrão contou a ele que contratou Bola para matar Eliza. Foi a primeira vez que Bruno implicou Bola na morte da modelo, com quem o atleta teve um filho. Até então, o policial era citado como "Neném" por Jorge Luiz Rosa, primo do jogador que era menor de idade á época do crime, que disse à polícia ter presenciado a execução da jovem.
O advogado perguntou a Bruno se achava que, quando Macarrão se referiu a Neném, queria dizer Marcos Aparecido dos Santos. O goleiro respondeu que sim e falou que ficou sabendo por meio da imprensa que Bola tinha vários apelidos, como "Neném" e "Paulista". Ele disse que tem medo do policial.
Macarrão, em sua confissão à Justiça em novembro, disse não saber quem seria o executor de Eliza Samudio. O amigo de Bruno afirmou no júri popular em que foi condenado a 15 anos de prisão que deixou a modelo em uma rua escura e que ela entrou em outro carro.
Bruno reconheceu pela primeira vez que Eliza foi morta, culpou Macarrão pelo assassinato, negou ser o mandante do crime e disse acreditar que poderia ter evitado esse desfecho. O jogador disse que, na noite em que a modelo foi morta, Macarrão e o primo Jorge Luiz Rosa deixaram o sítio com Eliza e o bebê Bruninho, voltando mais tarde somente com a criança.
"Perguntei para eles: 'poxa, cadê Eliza? Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'", afirmou. "Neste momento, Macarrão falou assim: 'ó, eu resolvi o problema, o problema que tanto te atormentava'", relatou no tribunal.
Bruno e a ex-mulher Dayanne Rodrigues enfrentam júri popular por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
'Eu perdoo por tudo'
Bruno disse que não denunciou Macarrão pelo crime por "medo de acontecer alguma coisa" com as sua filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo". Questionado pela juíza sobre quem ele temia, o atleta afirmou que era o próprio Macarrão e outras pessoas envolvidas. Sobre a relação com o amigo, condenado pela morte da modelo, Bruno disse que o perdoa. "Eu perdoo por tudo, mas ele vai cuidar da família dele e eu vou cuidar da minha família".
'Dayanne não sabia'
O goleiro também afirmou que a ex-mulher Dayanne Rodrigues não sabia que Eliza Samudio havia sido assassinada e que, "apesar de assustada com tudo o que estava acontecendo", em momento algum soube da situação. "Eu falei para ela só: 'fica com a criança para mim'. Ela perguntou o que eu estava acontecendo, mas eu quis protegê-la", disse no interrogatório.
Três festas e futebol após o crime
O jogador contou ainda que que foi a três festas e participou de uma partida de futebol com o time 100%, formado por ele e por amigos, nos dias seguintes à morte de Eliza, da qual sabia a partir de conversa com Macarrão e com o seu primo. Ele disse que na noite do crime viajou para o Rio de Janeiro e que, no dia seguinte, foi a uma festa do jogador Vagner Love e depois a outro evento, em Angra dos Reis. Dois dias depois do assassinato, ele participou do jogo do seu time e esteve em mais uma festa com os jogadores, realizada em uma casa alugada.
'Atrapalhando na transação'
Bruno disse ainda que conheceu Eliza em uma festa, que teve relação sexual com a modelo apenas uma vez e que, na oportunidade, ela tinha se envolvido com outras pessoas". Ele falou sobre os desentendimentos que surgiram quando ela disse que estava grávida e que a jovem passou a entrar em contato com a imprensa para falar coisas a seu respeito, o que teria atrapalhado uma transfer~encia para o futebol estrangeiro.
"Eu estava prestes a ser contratado por equipe fora do país, então estava atrapalhando na transação essas coisas ditas [por Eliza] na imprensa", disse Bruno. "Incomodava não só a mim mas todos que estavam a meu redor. [...] As pessoas que dependiam de mim, como família, como amigos, empresário".
O jogador falou que Macarrão ficou responsável por lidar com Eliza e que, no dia 3 de junho de 2010, o amigo chegou no hotel onde Bruno estava concentrado com o Flamengo e disse que havia trocado socos e agressões no carro com Eliza e que ela estava machucada.
Ao chegar em casa, segundo relatou no júri, Bruno viu o filho Bruninho com a ex-namorada Fernanda Castro, junto com o primo menor de idade e Macarrão. Eliza estava em outro andar do imóvel. "Ela estava lá machucada, com hematomas no rosto e na cabeça, mas não estava sangrando".
Ele disse que surrou o primo por ter agredido a modelo, que fez um curativo na jovem e que conversou com Eliza sobre um acordo, no valor de R$ 50 mil. Ele disse que parte do dinheiro estava no sítio em Minas Gerais, motivo pelo qual a vítima viajou junto com eles na mesma noite, levando o filho. Depois disso, segundo Bruno, Macarrão colocou o plano de matar Eliza em prática, sem que ele tivesse conhecimento prévio do combinado.
Dayanne depõe no 2º dia
Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, disse na terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta.
No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo goleiro.
Choro de Bruno no 1º dia
No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza também chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.
O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.
Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.
No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido.
Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.
Fonte: G1
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