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Fordlândia, uma cidade fantasma no norte do Amazonas

Posted by iptvweb01 ~ domingo, 26 de fevereiro de 2012


 Festival É Tudo Verdade traz estreia de documentário sobre etapa esquecida na nossa história

por Estela Cotes - 4 de setembro de 2009
Os diretores Daniel Augusto e Marinho AndradeOs diretores Daniel Augusto e Marinho Andrade
Em 1999, ao ler uma notinha em um jornal, o cineasta Marinho Andrade decidiu resgatar e mostrar para o Brasil uma história deletada da memória nacional. O resultado é "Fordlândia", documentário em exibição no festival É Tudo Verdade (até 7 de setembro, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo), que fala da vila homônima às margens do rio Tapajós, na região Amazônica. Fica a 12 horas de barco da cidade de Santarém, no norte do Pará.

O nome lhe sugeriu alguma marca? Pois é, Fordlândia foi construída por Henry Ford, criador da montadora de automóveis e do método de produção que ganhou o nome de fordismo. No início da década de 1920, Henry Ford via-se preso ao monopólio inglês de venda da borracha. Na época, soube que o Brasil, principalmente a Amazônia, era um solo fértil na produção de seringueiras. A solução mais óbvia (ou não!) foi criar seu próprio campo de extração do látex. Como? Construindo uma vila com status de cidade nessa região completamente isolada.

Depois de algumas pesquisas feitas por uma equipe norte-americana e uma negociação simples, ele recebeu autorização total do governo paraense e federal da época para explorar a área como quisesse. Em 1928, uma cidade inteira foi trazida em navios para o solo brasileiro.

Milhares de pessoas mudaram-se para aquele polo promissor, com boa escola e um excelente hospital, sem precedentes nos anos 1920 na parte norte do Brasil. Norte-americanos também vieram de mala e cuia. A vila tinha casas para todas as classes: de madeira para os peões e belas construções para os estrangeiros. Em cálculos atuais, Henry Ford teria gasto R$ 25 milhões apenas para comprar a terra.
Infelizmente o sonho durou pouco e a prepotência americana os levou ao prejuízo. A equipe que veio ao Brasil para estudos preliminares esqueceu de apurar que a monocultura de seringueiras não vinga em terra nenhuma. Pelo contrário, dá origem a uma praga que devasta toda a plantação. Não é difícil imaginar o que aconteceu. Os gringos foram embora deixando objetos e toda uma população para trás.

CHOQUE CULTURAL


Fordlândia antes...Fordlândia antes...
Em termos estéticos, o documentário segue os preceitos básicos da maneira realista de retratar um fato. Intercalando cenas e fotos da época, com tomadas de casas e ruas em situação atual, Marinho, ao lado de Daniel Augusto, conta a história decadente de Fordlândia, gerando um sentimento de constante vazio. Os fatos são retomados a partir da trajetória de Charles Townsend e seu irmão gêmeo – que nasceram ali, mas fizeram a vida nos Estados Unidos. O ponto de vista de quem sobreviveu à falência vem com o relato de duas senhoras, sendo uma delas Dona América, babá dos irmãos.

“Queria retratar a história desse homem sonhador, maluco beleza”, conta Marinho. Filmado entre 2005 e 2006, o documentário de apenas 48 minutos resgata uma utopia, é humano e traz ainda uma reflexão sobre a truculência na tentativa de suprimir uma cultura a favor de outra. Henry Ford, por exemplo, causou o primeiro conflito com os cinco mil seringueiras ao impor alimentação enlatada a um povo que poderia pescar e adora farinha de mandioca.

FELIZ COINCIDÊNCIA

... e depois.... e depois.
Ao sair da seção tive a sorte de conhecer uma representante de Fordlândia! Nilma Almeida tem 30 anos e ficou sabendo da exibição do documentário que fala sobre sua cidade natal por acaso. Foi lá e fez questão de se apresentar a Marinho. Conversando com a produtora que mora em São Paulo há três anos, constato que o que estava no documentário é realmente Tudo Verdade.

Nilma saiu de lá em 1984, quando esse processo de abandono caminhava a passos largos. Para ela, divulgar e relembrar a história de Fordlândia é imprescindível, já que até na escola, quando se estuda a história do Pará essa etapa foi suprimida. “A vila não existe no mapa. No lugar está Bela Vista e o meu registro de nascimento é de outro município”, explica – mesmo porque a região nunca ganhou tal status. Como numa colônia do século XX, Fordlândia nasceu como um centro moderno em 1920 e hoje, nos anos 2000, foi esquecida e retrocedeu.Reproduzido do (http://www.colheradacultural.com.br)

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