Pará - O oeste paraense é alvo da operação Mamuru II, há 15 dias, contra o desmatamento e a exploração ilegal de madeira. A ação, que ocorreu no rio Mamuru, afluente do rio Amazonas, no município de Juruti, desarticulou duas madeireiras ilegais que agiam na região. A Polícia Civil, por meio da Divisão Especializada em Meio Ambiente (Dema), iniciou investigação para chegar até os responsáveis pela exploração das florestas. Segundo depoimentos, a madeira era retirada de comunidades do Mamuru e levada para Parintins (AM) e Belém. A Polícia investiga ainda um suposto acordo para repasse financeiro que teria sido feito em 2010 entre a Associação dos Produtores Rurais do Rio Mamuru (Aprim) e os madeireiros, com o aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
A Mamuru II percorreu mais de 10 comunidades no entorno do rio. Denúncias apuradas pelo Estado e o trabalho de fiscalização via satélite apontaram vários pontos de exploração, inclusive em áreas destinadas a concessão, que o Governo do Pará está licitando para a extração legal sustentável da madeira. A operação é coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), em parceria com a Divisão Especializada em Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil, Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Terras do Pará (Iterpa), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), da Polícia Militar, e Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves.
A equipe, formada por 26 servidores, partiu, de barco, de Santarém, no dia 18 de março. Subindo o rio Amazonas, foram quase três dias até o rio Mamuru. Ao longo do rio, durante os 15 dias, vários pontos foram fiscalizados pela operação. Os agentes ambientais e de segurança pública paraenses verificaram os braços de rio formados pelo Mamuru, bem como as áreas apontadas pelo monitoramento via satélite que estavam sendo exploradas ilegalmente nos últimos meses.
Estrutura do desmatamento
Entre as áreas exploradas está uma próximo a comunidade Mirizal. Uma estrada aberta, ainda com rastros de caminhões, levou a equipe até um caminhão abandonado, ainda com carotes de gasolina. A Polícia afirma que o veículo era utilizado para o transporte de toras. Uma carroceria e tanque para levar diesel para os equipamentos também foram abandonados. Alguns quilômetros à frente, um acampamento completo foi encontrado. Segundo os peritos do CPC, o local tinha uma boa infraestrutura, com eletrodomésticos e mantimentos, e parecia ter sido abandonado às pressas.
Na área denominada Mocambo, localizada próximo a uma vila com o mesmo nome, outra demonstração da exploração madeireira. O local mostra a ousadia e ao mesmo tempo a infraestrutura que os madeireiros aplicavam na exploração ilegal. Na beira do rio, uma pista de pouso feita de brita, material resistente, medindo mais de 800 metros. Próximo a pista dois portos para o embarque da madeira derrubada ilegalmente. Os três pontos de embarque e desembarque eram ligados por uma estrada principal, com vários ramais. O caminho levava ao ponto de extração, a 20 km do começo da estrada.
Neste ponto, localizado na área onde o Estado irá realizar a concessão para a extração legal, um acampamento bem estruturado, com gerador de energia, eletrodomésticos, televisão, antena parabólica e até mantimentos foi encontrado pelos agentes da Mamuru II. No acampamento estava um morador da comunidade do Mocambo, Vicente de Paulo Ferreira, que prestava serviço para a madeireira, tomando conta do local. Ele recebia o valor de R$ 700,00 pelo trabalho, mas há dois meses não era pago. Vicente prestou depoimento à Polícia, que iniciou investigação a partir das informações fornecidas por ele.
Segundo o morador, dois homens, Claudecy Pereira, que reside em Paritins (AM), e “Mica”, de Santarém (PA), trabalhavam para a GC Madeiras, que teria como dono um homem chamado Ciro, de Belém. Ainda de acordo com Vicente, no mês de abril Claudecy e “Mica” retornariam com o maquinário para a área a fim de continuar a exploração. A partir do depoimento de Vicente, a Polícia foi informada também sobre uma suposta negociação entre a Aprim e a madeireira ilegal de Ciro. Por mil metros cúbicos de madeira, do tipo Maçaranduba e Ipê, a associação teria recebido de Claudecy e “Mica” um barco com capacidade para 45 passageiros e mais uma lancha de alumínio com motor de potência 40 cavalos.
Investigação
O delegado da Dema, da Polícia Civil, Marcos Lemos, ouviu, além de Vicente, os presidentes da Aprim e da Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (Acorjuve), Antônio Carmo e Gerdeonor Pereira, respectivamente. De acordo com o depoimento de Antônio, a GC Madeiras teria chegado à região do Mamuru em outubro de 2010, depois de arrematar 5 mil metros cúbicos de madeira em um leilão feito pela Sema. Após este leilão, a Aprim teria firmado o acordo financeiro com a GC Madeiras, de Belém, para garantir 5% de toda madeira leiloada pela Sema. O acordo, segundo os depoimentos colhidos pela Dema, teria sido feito com a interveniência da Sema. Em virtude disto, o delegado solicitou por ofício informações a respeito do leilão e do acordo.
“A madeireira, a partir do leilão, detinha o direito de retirar os 5 mil metros cúbicos de madeira, mas, segundo o Antônio, teria mantido a exploração na região desde então. Vamos solicitar à Sema informações sobre este suposto leilão, a fim de dar continuidade às investigações. Além disso, a Polícia vai apurar o suposto apoio que a Sema teria dado ao acordo feito entre a Aprim e a GC Madeiras”, afirmou o delegado Marcos, que já solicitou também apoio à Polícia do Amazonas para localizar Claudecy. “A Polícia Civil do Amazonas, em Paritins, já identificou Claudecy e irá ouví-lo. Vamos dar prosseguimento à investigação para chegar aos cabeças dessa rede de exploração madeireira”. Conforme o rumo das investigações, e os próximos depoimentos, a Polícia Civil do Pará poderá indiciar os culpados pela exploração.
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