Chefe do Exército tem aval para ser candidato à presidência do Egito
O comando militar do Egito aprovou nesta segunda-feira (27) a possibilidade de candidatura à presidência do general Abdel Fattah Al-Sissi, poucas horas após o anúncio de sua promoção a marechal, segundo a agência oficial Mena.
Esses anúncios representam para o chefe do exército e popular homem forte do Egito um passo importante para a sua candidatura nas eleições, previstas para acontecer em três meses.
Coube ao presidente interino Adli Mansur, instaurado pelo exército no início de julho após a destituição e prisão do islamita Mohamed Morsi, anunciar a promoção de Sissi.
No domingo, o chefe de Estado interino indicou que a eleição presidencial seria organizada ao mesmo tempo que as legislativas, um calendário que parece feito sob medida para o marechal, de 59 anos.
Há várias semanas, pessoas próximas ao marechal, que também é ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro, não escondiam a intenção de Sissi de se apresentar às eleições.
Mas a Constituição adotada em meados de janeiro do ano passado determina que o presidente deve ser, obrigatoriamente, um civil. Portanto, se o marechal Sissi desejar, de fato, brigar pelo cargo, deverá desligar-se do exército ou aposentar-se.
A este respeito, um funcionário do governo explicou à AFP que a patente de marechal "poderia ser uma honraria concedida a Sissi antes de deixar o exército".
A opinião é compartilhada por um segundo oficial, que pediu para não ser identificado.
A reunião do comando militar foi anunciada pela agência de notícias oficial Mena.
Para além dos imperativos constitucionais, para Karim Bitar, especialista em Oriente Médio, a promoção a marechal, a mais alta patente do exército egípcio, é "mais um passo na construção política e midiática do mito do salvador, o herói e o homem providencial".
Além disso, o diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) nota que esta distinção, extremamente rara, acontece no momento em que as autoridades, lideradas de fato pelo exército, reprimem com um banho de sangue os islamitas partidários de Morsi.
"Normalmente, está distinção é concedida só depois de uma grande vitória militar. O que significa que consideram a repressão em curso uma 'guerra contra o terrorismo' e que vale como um triunfo no campo de batalha", afirma.
Vice-premiê sai
Ao mesmo tempo, o vice-primeiro-ministro egípcio e titular da pasta de Cooperação Internacional, Ziad Baha Eldin, anunciou que apresentou sua renúncia ao chefe do governo, Hazem al Beblaui.
Em carta à Beblaui divulgada em sua página oficial no Facebook, o vice-primeiro-ministro considera que seu papel no próximo período da transição "será mais coerente e eficaz na ação política de partido e na ação jurídica".
Repressão
Em sete meses, mais de 1.000 manifestantes pró-Morsi foram mortos na repressão implacável dos policiais e soldados, enquanto milhares de islamitas foram presos, incluindo quase todos os líderes da Irmandade Muçulmana, a influente confraria à qual pertence Morsi, o único presidente democraticamente eleito no Egito.
Desde então, os líderes do movimento islâmico estão sendo, assim como Morsi, julgados em processos nos quais enfrentam a pena de morte.
No final de dezembro, a Irmandade foi declarada uma "organização terrorista", após um ataque mortal contra a polícia reivindicado por um grupo jihadista do Sinai, sem ligação conhecida com o movimento.
Esta península desértica se tornou desde a destituição de Morsi palco quase diário de ataques contra as forças de ordem, que perderam dezenas de homens em sete meses.
No sábado, o mesmo grupo jihadista, o Ansar Beit al-Maqdess, que diz se inspirar na rede terrorista da Al-Qaeda, afirmou ter derrubado um helicóptero do exército.
E os ataques, incluindo com carros-bomba, chegaram a atingir o Cairo, abalado por cinco explosões no último fim de semana.
A imprensa, em uníssono com o exército e a polícia, reiteram a retórica da 'guerra contra o terrorismo', e no sábado, por ocasião do terceiro aniversário da revolta que derrubou Hosni Mubarak do poder, milhares de egípcios se reuniram na simbólica praça Tahrir em favor de Sissi.
"Eu compreendo que as pessoas queiram Sissi como candidato. Elas temem pela sua segurança e exigem um homem forte", diz Alfred Raouf, do partido liberal Al-Dostour, que apoiou a destituição de Morsi. Mas "eu teria preferido uma eleição presidencial entre candidatos civis para estabelecer uma democracia civil".
Pois "o (futuro) presidente vai anunciar suas crenças e orientações políticas e os partidos políticos mais próximos irão se beneficiar" nas eleições parlamentares, ressalta, por sua vez, o cientista político Gamal Abdel Gawad Soltan.
Do G1, em São Paulo
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