Trairão: Colonos presos sob ordem judicial
Por: Gerciene Belo*
Os assentamentos continuam a ser criados sem as condições necessárias ao pleno desenvolvimento do lugar e das pessoas que vivem ali, sem a menor infra-estrutura. Centenas de pessoas vivem sem dignidade, “com a cara e coragem “, e ainda produzem o alimento que abastece a mesa de milhares brasileiros de todos os dias.
A apropriação de terras públicas feita de modo indevido e por meio de falsificação de documentos de titularidade da terra é denominada como “grilagem de terras”, que surge em virtude de especulação imobiliária, da venda de madeiras e lavagem de dinheiro, fato muito comum nos assentamentos. Não obstante, os colonos se obrigam a manter uma relação de dependência e exploração com os madeireiros apoiada pelo Incra quando não cumpre com as suas obrigações relacionados à infraestrutura dos assentamentos e endossada muitas vezes pela Justiça quando favorece os grileiros, enquanto aos colonos são destinadas até prisões, maus tratos, humilhações e agressões.
Foi o que aconteceu no último dia 25, no Assentamento Ipiranga – vicinal km 30 – no município de Trairão (PA), onde moram centenas de famílias. Há alguns meses vem se desencadeando um conflito nessa área com um senhor de pré-nome Ivo, que afirma ser dono de alguns lotes no referido assentamento. Acontece que os colonos assentados ali possuem a documentação expedida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e já que pretenso “dono” tem documento também, está havendo uma superposição de títulos com o aval do próprio Incra.
Ivo afirma que a terra é dele e os colonos moram, trabalham e vivem ali sob a proteção do governo, mas sob ameaça de Ivo, que segundo informações extra-oficiais, é madeireiro e pratica grilagem de terras, e já teve suas armas e munição apreendidas, mas conseguiu na Justiça uma “reintegração de posse”, expedido pela comarca de Itaituba assinada pela Juíza Vanessa Ramos Couto.
Três policiais militares (sargento Gleidson, cabo Enildo e o soldado Cabral) juntamente com o oficial de Justiça Gilson Orle Nazaré numa Hilux de placa NPO 5679 tangará da Serra – MT, foram até o assentamento cumprir a ordem judicial. Chegando lá não mostraram nenhum documento para as famílias e foram logo expulsando as pessoas de dentro das casas, jogando fora os pertences pessoais e objetos enquanto outros vinham atrás derrubando as casas com moto-serra.
O desespero tomou de conta de todos. Alguns pais de famílias que questionaram a barbaridade foram algemados e jogados na carroceria da Hilux. Até uma menina de 14 anos que filmava com o seu celular recebeu voz de prisão por conta disso e ainda teve seu aparelho apreendido. Os policiais ainda utilizaram spray de pimenta nas roupas intimas das mulheres, nos colchões e em outros pertences pessoais das famílias, que viveram momentos de terror segundo relato do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itaituba, Antonio Carlos Abreu, que prestava apoio às vitimas da truculência do despejo.
O senhor Irandir, sua esposa Eugenia, Edgar e o presidente do assentamento do Ipiranga foram levados para Itaituba. No caminho a equipe (oficial de Justiça e policiais) parou para almoçar na casa do pretenso dono das terras, enquanto os agricultores aguardaram por eles cerca de uma hora debaixo do sol quente. Em Itaituba, foram conduzidos para a seccional de polícia, onde lá foram tratados como bandidos e somente na tarde de ontem (31.01) foram ouvidos pela Justiça que ainda não se posicionou sobre o caso.Matéria retirada na integra do (Quarto poder.blogspot)
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