Fiscalização flagra paciente morrendo em chão de hospital no AP
Uma vistoria realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Amapá (CRM-AP) e Sindicato dos Médicos do Amapá (Sindmed-AP) nesta terça-feira (30), no Hospital de Emergências de Macapá, flagrou o momento em que um paciente é atendido no chão da UTI semi-intensiva da instituição, após uma parada cardíaca.
A tentativa de reanimação acontece no chão mesmo, entre as macas. Com a sala lotada e sem leito, médicos e enfermeiros chegam a fazer o procedimento de primeiros socorros, mas instantes depois, a vítima morre.
Além desse, outros casos de atendimento precário foram registrados durante a inspeção dos profissionais. A equipe constatou diversas irregularidades como superlotação e falta de equipamentos no HE, e na Unidade Básica de Saúde Lélio Silva, no bairro Buritizal.
A ação faz parte da mobilização nacional da categoria iniciada nesta terça-feira, contra a implantação do programa 'Mais Médicos' do Governo Federal. O presidente do CRM-AP, Dorimar Santos, é contra a medida provisória, e aponta que a solução para a saúde no Amapá, "não é o acréscimo do número de profissionais, mas sim a disponibilidade de condições adequadas de trabalho para a categoria", protestou.
O vice-presidente do Sindmed-AP, Joel Brito, caracterizou a situação do HE como desumana.
O diretor do HE, Regiclaudio Silva, justificou o atendimento de urgência no chão como uma medida necessária. "Por ser um hospital de pronto atendimento, temos que atender todos que chegam. Na UTI semi-intensiva temos capacidade para 4 pacientes. No momento em que chegou a vítima todos os leitos estavam lotados", explicou.
O diretor do HE disse ainda que as fiscalizações do CRM-AP devem ficar atentas não só ao que o governo oferece como condição de trabalho, mas também ao comportamento dos próprios médicos. "A saúde precisa ser despolitizada", ressaltou.
A fiscalização dos médicos foi registrada em vídeos e fotos, e o material foi cedido à imprensa nesta quarta-feira (31).
O conselho destacou ainda, a falta de profissionais e equipamentos na UTI semi-intensiva do hospital. "A situação da saúde que é ofertada hoje ao paciente no Amapá é degradante. No estado, temos a saúde pública como principal forma de atendimento, e se isso falha, toda a população fica em risco", lamentou o neurologista Dorimar Santos.
Na UBS Lélio Silva, localizada no bairro Buritizal, a fiscalização constatou a falta de limpeza no local. A caixa d'água da unidade não tinha tampa, facilitando a contaminação da água. Havia mato no entorno do prédio da UBS.
As imagens serão enviadas para os Ministérios Públicos Federal e Estadual juntamente com um relatório sobre a situação encontrada pelos profissionais nas duas unidades de saúde.
No final da tarde desta quarta-feira, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulgfou nota em que informa que "o caso exposto pelo CRM é o retrato da herança maldita que foi deixada pela gestão anterior, que não fez investimentos na área da saúde nos últimos 10 anos", diz a nota, acrescentando que "as obras dos hospitais de Santana e Oiapoque foram reiniciadas em 2011, requerendo grandes correções decorrentes de projetos mal elaborados".
Em outro trecho, a nota diz que "o Hospital Metropolitano, de responsabilidade da Prefeitura de Macapá, que poderia desafogar o estrangulamento do 'Pronto Socorro Estadual', é um caso famoso de obra parada sem data para conclusão".
Ainda de acordo com a nota, "o Hospital de Emergência tem sua reforma e ampliação prevista nesse processo de reestruturação do SUS no Estado do Amapá, os projetos executivos estão na fase de finalização para sua licitação. No momento
estamos realizando uma obra emergencial para aumentar a capacidade de atendimento daquela unidade de saúde".
A nota diz ainda que "o material produzido pelo CRM visa atender a pauta nacional da
classe médica, sem considerar a dificuldade crônica de contratação de médicos para atuarem na Amazônia, a exemplo do maior concurso público da saúde realizado em 2011, que até hoje não teve a totalidade das vagas preenchidas".
G1.
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