O avô dele, Henri Rostand, que não queria saber de guerras, atravessou o Atlântico viajando clandestinamente até o porto de Salvador. Depois, seguiu para Belém, onde arrumou uma companheira e subiu o rio Amazonas até a foz do rio Tapajós, estabelecendo-se em Santarém.
Naquela época, final da década de 1920, dois navios de guerra, agora transformados em embarcações de transporte de carga, vindos dos EUA, aportaram em Santarém. Eles deveriam seguir pouco mais de 200 km rio acima, onde seria construída uma pequena cidade nos moldes daquelas existentes no meio oeste norte americano. Era verão e o rio azul estava no seu nível mais baixo. Os navios teriam que esperar.
Henri Francês, entretanto, não tardou em subir o Tapajós e foi trabalhar nas plantações da empresa Ford. Dali seria expulso tempos depois por denunciar o contrabando de minério para os states no interior de peças de madeira. Foi então que ele atravessou para a outra margem do rio e ali se estabeleceu como agricultor até o fim da sua vida. Teve seis filhos, dentre eles Ivan Rostand, aquele que prestou estas informações.
Depois que chegou ao Brasil, Henri Francês, nome com o qual ficaria conhecido, nunca mais retornou à sua terra natal, embora mantivesse contato por carta com parentes. Seus restos mortais estão sepultados em Urucurituba, a aldeia que Ivaldo Rostand queria porque queria que eu fosse conhecer e que abrigou a sede do sindicato dos trabalhadores quando eles foram perseguidos pelos homens de Ford na outra margem do rio.
Assim surgiu a idéia de uma expedição em caiaques oceânicos pelo rio Tapajós. Urucurituba serviu de base para os aventureiros. Foi de lá que partimos em direção à Alter do Chão (foto) e em seguida até Santarém, no último dia sete de setembro. Foi a coisa mais significativa que eu fiz neste ano que finda, porque acreditei, como sugere o poeta Mário Quintana, que "viajar é trocar a roupa da alma". Agora, imagine se é uma viagem de 230 km rés ao espelho d'água de um rio azul, durante sete dias...
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