Justiça Militar ouve PMs suspeitos de envolvimento em fraude no Pará
A Justiça Militar ouviu, nesta segunda-feira (26), em Belém, dois oficiais da Polícia Militar suspeitos de envolvimento em fraudes na corporação. Segundo a polícia, eles participaram de um esquema de venda ilegal de carros da PM para outros estados. Outras quatro pessoas são suspeitas de envolvimento no caso. As pessoas mascaravam a venda dos veículos com documentos de doação para instituições filantrópicas. O prejuízo aos cofres públicos chega a R$ 15 milhões.
A coronel da reserva da Polícia Militar, Ruth Lea Costa Guimarães, foi a primeira a depor na Justiça Militar na manhã desta segunda. Após cerca de uma hora de depoimento, ela saiu da sala com o rosto coberto e não quis gravar entrevista. De acordo com a promotoria, em 2006, quando ela era diretora logística da PM, ela doou ilegalmente viaturas da corporação que deveriam ter ido a leilão, mas as instituições beneficiadas nunca receberam os veículos.
"Ela apenas reproduziu os mesmos procedimentos que antes tinham sido feitos, ela apenas entrou em contato com alguns dos comandantes dos batalhões do interior e autorizou a eles dentro de um procedimento legal que havia sido instaurado para a descarga das viaturas para a capital", explicou o advogado da coronel, Alcindo Neto.
O segundo suspeito de envolvimento na fraude, o sargento da PM Raimundo Nonato de Sousa Lima também prestou depoimento. Segundo as investigações da polícia, entre as outras quatro pessoas suspeitas de fazer parte do esquema está Mikanor Joaquim da Silva, dono de um ferro velho que seria amigo pessoal de Ruth Lea.
"Eles tinham uma relação de amizade, tanto que ela alugou um galpão para ele no nome dela, ele comprou um veículo no nome dela para ela financiar. Quando a Polícia Civil fez a interceptação telefônica e também quebrou o sigilo bancário dela, havia depósitos do Mikanor que ele fazia na conta da coronel", afirmou o promotor da Justiça Militar, Armando Brasil.
As fraudes só foram descobertas em 2013. Os veículos que seriam doados eram, na verdade, vendidos para outros estados, como São Paulo e Ceará. Ao serem multados nesses estados, as notificações de trânsito eram enviadas para Belém. De acordo com o Ministério Público Militar, só com o aval da coronel, cerca de 50 veículos foram desviados dessa forma.
Ao todo, mais de 1.500 veículos foram desviados no esquema. O MPM já pediu a abertura de um processo administrativo para que seja apurada a permanência da coronel na corporação militar. O amigo pessoal de Ruth Lea, Mikanor da Silva, não foi encontrado para comentar o caso.
Entenda o caso
A Divisão de Investigação e Operações Especiais da Polícia Civil prendeu seis pessoas no dia 20 de dezembro, em Belém, suspeitas de embarcar carros oficiais da Polícia Militar para fora do estado, entre elas, a diretora de apoio logístico da Polícia Militar, a coronel Ruth Lea Costa Guimarães.
De acordo com a polícia, alguns desses veículos teriam sido doados à Fundação Educandário Pestalozzi, que atende pessoas com deficiência. Segundo o Ministério Público do Pará (MPE), as doações eram irregulares e os carros, na verdade, seriam vendidos. 161 carros teriam sido doados para a Fundação, em 2010.
Os veículos estariam em condições de sucata e seriam usados para gerar recursos financeiros para a entidade. Mas, segundo o MPE, na verdade, os veículos estavam em pleno funcionamento e traziam prejuízos para a instituição, que recebeu multas de outros estados como Ceará e São Paulo, além do Pará. Foram infrações por excesso de velocidade e falta de licenciamento dos veículos. Todas estavam em nome da fundação Pestalozzi.
“Os carros que foram doados nunca chegaram aqui. Começaram a surgir as multas, de vários lugares do Brasil. Começamos a perceber que isso tinha um desdobramento e foi quando nós procuramos o MPE”, diz Álvaro Adolpho, presidente da Fundação Pestalozzi.
G1/PA
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